sexta-feira, 18 de junho de 2010

II Fórum de Fé e Política de Macaé

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No dia 12 de junho de 2010 aconteceu em Macaé, RJ, o II Fórum de Fé e Política, no colégio estadual Télio Barreto, onde o ambiente estava preparado e enfeitado. O tema escolhido foi “Espiritualidade, ética e participação na construção da vida”.

O acolhimento foi destaque. No credenciamento, os 80 participantes receberam camiseta e bolsa personalizada. A seguir, foi oferecido um precioso café da manhã.

Iniciamos as atividades com cantos e a mística. Pastor Salvador motivou o início do encontro trazendo a memória de Amós, o profeta dos excluídos. Amós era uma pessoa simples, chegava a ser rude. Só que trazia uma mensagem forte. Suas palavras eram graves, cortantes. Por isso seu “ministério” foi bastante curto.

O tema do livro de Amós é a justiça social. Amós profere sua mensagem no tempo do rei Jeroboão que tinha colocado em prática uma política expansionista muito bem sucedida. Seu êxito econômico e político excluía o povo pobre.

Também nós somos uma nação rica, com um povo pobre, levado no cabresto. Amós denuncia muitas coisas. Seu conceito de justiça é diferente daquele que aprendemos nas escolas. Para Amós justiça não é “dar a cada um o que é seu”. Amós entende que Justiça é “dar a cada um o necessário” para uma vida digna.

Somos um país com tantos Códigos, Estatutos e instrumentos legais diversos. Mas será que o direito, neste Estado de Direito, é o direito de todas as pessoas?

Amós critica Amasias que se parece muito com a classe sacerdotal atual, pastores e padres. Desculpem-me se falo assim, generalizando. Vivemos num país de católicos e evangélicos. Todo dia tem missa e culto, padres e pastores pregando na TV. E são tantos os bispos, pastores, pregadores, mas onde está a voz profética de Amós nos nossos dias?

Num segundo momento, houve a dinâmica do feijão. Cada participando recebeu um feijão estilizado, com o nome de um mártir das lutas populares da América Latina. Da dinâmica os participantes foram para o trabalho em grupos. Cada grupo recebeu um texto motivador e tinha uma pessoa para assessorar. Eram quatro grupos:

1. Espiritualidade no Cuidar da vida
2. Eleições e Ética na Política
3. Participação e Acompanhamento
4. A questão da terra e Plebiscito

Depois do plenário, no momento chamado “digerindo idéias”, Névio destacou alguns pontos.

O trabalho de reflexão e partilha em grupos é muito importante. Ali nos encontramos com diversas pessoas para conversar e trocar experiências. Descobrimos que não estamos sozinhos na luta. Muita gente boa caminhando conosco. É importante ter presente que as grandes transformações são semeadas de grão em grão, como o feijão que vocês trouxeram para a discussão deste Fórum.

Temos muitas lutas e atividades acontecendo no país. Não podemos ficar de fora: Eleições, Ficha Limpa, Plebiscito Popular e tantas outras coisas acontecendo.

Diversos organismos da CNBB publicaram a Cartilha Eleições 2010, o chão e o horizonte. O chão que pisamos e a realidade que vivemos. O horizonte que miramos e o Brasil que queremos. É bom termos presente que numa eleição federal, não escolhemos apenas nomes para os cargos vagos. Pelo voto apontamos o projeto de país que queremos construir. Nosso desafio é levar essa reflexão para as bases.

O tema escolhido para o Fórum indica que nos movemos a partir da espiritualidade. Como Igreja, aprendemos com os pobres que Deus também teve um sonho. De seu sonho surgiu a criação, descrita como um jardim. Nós hoje precisamos aprender que o “jardineiro não é maior que o jardim”. No sonho de Deus o jardim é um lugar para todos. Como cristãos, somos portadores do sonho de Deus. Precisamos desenvolver uma espiritualidade ecológica, profética, como Amós.

Este Fórum, na fala dos grupos, nos pede que caminhemos, fazendo cada município o seu caminho.

Na Fila do Povo, que se seguiu, foram destacados diversos assuntos, sobretudo a política do royalties do petróleo. Algumas atividades foram lembradas:

 Quarta Cidadã – toda última quarta-feira de cada mês, 19h, na Segunda Igreja Batista, Cajueiros, Macaé, pastor Daniel faz um trabalho bíblico voltado para a construção da cidadania.

 Projeto Promovendo a Vida – A paróquia S. Paulo Apóstolo, Macaé, está implantando um projeto como alternativa de renda e inclusão. As bolsas do Fórum foram feitas por esse projeto.

 Ato comemorativo do Ficha Limpa – o Fé e Política de Macaé vai dar um destaque público à aprovação do projeto popular. Será dia 23 de junho a partir das 18h.

 Plebiscito Popular sobre o Limite da Propriedade da Terra na semana de 01 a 07 de setembro – terminando com o Grito dos Excluídos.

 Caravana da Juventude - Nos dias 19 e 20 junho, reunião diversos grupos de jovens para o Lançamento da Caravana, com diversas atividades: bandas, músicas, shows, debates. O objetivo é construir um plano de juventude, tendo em vista a criação do Conselho Municipal de Juventude de Macaé.

No final do evento foi destacado o compromisso. Cada um falou onde deve ser plantada a semente que todos receberam. Começamos o encontro com Amós e terminamos com outro profeta, Isaías 65, 17-25 - “Eu vou criar um novo céu e uma nova terra”. Este momento terminou com a saudação “que Deus possa firmar estes nossos propósitos. Amém”.

O encontro terminou às 13 horas com uma feijoada e a música de um conjunto de chorinho. O Fórum foi animador! Névio registrou.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Encontro do Movimento Fé e Cidadania de Campos

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Nos dias 29 e 30 de maio de 2010 foi realizado em Campos, RJ, no Colégio João Paulo II das irmãs Missionárias de São José, o Encontro do Movimento Fé e Cidadania, com a participação de 25 pessoas. O número de pessoas inscritas era bem maior, mas muitas não puderam comparecer por causa de outras atividades que aconteceram nessa mesma data. O tema Cidadania e Economias foi escolhido para dar continuidade ao tema da Campanha da Fraternidade Ecumênica.
Reunidos em torno de um altar preparado no chão, que trazia a recordação da luta pela Reforma Agrária, contra o trabalho escravo, a Rede Fitovida de agroecologia e saúde alternativa, celebramos o encontro de Elias com a viúva de Sarepta, como sinal de uma nova economia que haveremos de construir.
O Encontro serviu também para incluir a cidade de Campos na Rede de Fé e Política do estado do Rio de Janeiro. Para este ano, estão previstos mais dois encontros de formação: Cidadania e Políticas Públicas; O Papel do Leigo na Igreja.
O Movimento Fé e Cidadania surgiu em Campos a cerca de dois anos e vem aos poucos se consolidando, com o apoio do padre José Carlos, redentorista do Santuário e de Juvenal Rocha, da CPT do estado do Rio de Janeiro, que tem um pólo de atuação no município.
Por ocasião do Plebiscito pela reestatização da companhia Vale do Rio Doce, o padre, no final da missa, lançou uma convocação para que os fiéis apoiassem a iniciativa e pediu que algumas pessoas se dispusessem a cuidar da mesa de coleta de assinaturas. Um por um os fiéis se foram embora, deixando o padre sozinho com as folhas de assinatura na mão. O padre concluiu que a culpa não era dos fíéis, mas da Igreja. E a partir daquele episódio começou a articular um grupo de pessoas que depois passou a se chamar Movimento Fé e Cidadania. Iniciaram fazendo diversos encontros de formação bíblica, apoiados por Maria Felisbela, do Cebi-RJ e do Curso do Rio. A organização do Grito dos Excluídos foi a principal atividade desenvolvida no ano passado. Neste ano pretendem organizá-lo novamente.
O Movimento tem três grandes desafios. Há alguns anos atrás, a cidade contava com três sindicatos bastante ativos, petroleiros, bancários e professores, que davam um suporte às demais lutas sociais na cidade. A desmobilização desses sindicatos, para não prejudicar a governabilidade, e a ascensão da família Garotinho na política local – com restaurantes e passagem urbana a um real, subvencionados pelos royalties do petróleo - criam um quadro bastante difícil para a ação política e cidadã.
O Movimento se apóia na militância católica. Mas a linha pastoral da Igreja católica local, com dois bispos, é bastante indefinida. Campos é sede nacional da Igreja tradicionalista do bispo dom Antonio de Castro Mayer (1949-1981) que segue o rito antigo, como os lefevrianos, com forte influência nas elites locais. Frente a essa Igreja, a diocese local tem pouco espaço de manobra.
No campo, onde predomina o latifúndio voltado para a produção de açúcar de cana e nas novas áreas urbanas da indústria do petróleo, o desafio do trabalho escravo é muito grande. Em 2009 o município foi recorde em libertação de trabalhadores submetidos a trabalho degradante.
Diante desse quadro, a emergência de uma articulação de pessoas para colocar a fé a serviço da cidadania, é uma boa-notícia. O grupo está animado.